quinta-feira, outubro 05, 2006

OBRA EM PROGRESSO

"(…) Mapa de ademonstração da Costa do Mar desde a Villa de Matozinhos, ate a Barra da Cidade do Porto (…)" Por Jozé Gomes da Cruz, Piloto das Naus de Guerra. 1775 Cópia de 1906. Arquivo da APDL.

Proposed Harbour at Leça, 1865 (Proposta de James Abernethy para um porto na foz do Leça) Arquivo da APDL

Porto de Leixões. Planta Geral e Perfis-typos segundo os diversos projectos que foram elaborados por differentes Engenheiros nacionaes e estrangeiros. Esc.1/2.500 (no original). S/d. Arquivo da APDL

Construção do Porto de Leixões (1884-1892) Vista geral do porto e da Vila de Matosinhos-Leça. Foto: Emílio Biel

Construção do Porto de Leixões (1884-1892) Molhe do Norte visto dos rochedos de Leixões Foto: Emílio Biel


DAS ORIGENS.
OU O PORTO DO FILHO DE HÉRCULES


«… porque estando (…) metidos ao mar huns escabrosos penhascos, a que chama Leixoens o vulgo; por mais que as tempestades embravecidas ostentem nelles com encapellada inchação e horrorosos deliquios, nunca nelles se vio haver naufragio, antes sim seguro asylo a toda a embarcação, que de proposito encaminha o rumo a este surgidouro admiravel, para salvar-se de todo, o que de outra sorte seria infallivel estrago, e notorio perigo, conseguindo deste modo bonança na mais furiosa tormenta.»

António Cerqueira Pinto, História da Prodigiosa Image..., 1737
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Quis Deus ou a Natureza que na foz do rio Leça, a meio quarto de légua da costa, se elevasse das águas atlânticas um conjunto de rochedos a que os homens deram o nome de «Leixões». Eram o «Espinheiro», a «Alagadiça», o «Leixão» grande e pequeno, como grande e pequeno eram também os rochedos da «Lada». Mas havia também o «Tringalé», o «Galinheiro», o «Cavalo de Leixão», a «Quilha», a «Baixa do Moço», o «Fuzilhão», o «Baixo do Leixão Velho» e muitos outros…
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Desígnio divino, ou tão só caprichosos afloramentos graníticos, que os geólogos classificam de grão médio ou gnáissico, os Leixões descreviam um semí-circulo no mar, formando como que um porto de abrigo natural.
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Numa costa frequentemente assolada por tempestades e nevoeiros, perigosos dada a existência de abundantes penedias traiçoeiras só visíveis nas vazantes, e que muito contribuíram para o sombrio e nefasto título de «Costa Negra» dado a esta região durante séculos, o refúgio formado naturalmente pela enseada dos Leixões não poderia deixar de escapar à atenção e argúcia dos Homens. E, com efeito, desde a mais recuada Antiguidade é a intervenção humana, mais do que a natural ou a do Criador, que moldará a história de Leixões. Mesmo que, para tal, muitas vezes tenham os mortais enfrentado as adversidades impostas pela natureza, e outras tantas tenham vencido o que pareceu ser a oposição do divino ou, quem sabe, a vontade do Demo.
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Não bastavam já os Leixões, também o próprio rio Leça contribuía e reforçava o apelo ao abrigo. Deslizando suave, nesta etapa final da sua viagem, o rio desaguava num convidativo estuário, navegável para montante até uma distância considerável. Tais potencialidades eram já aproveitadas no 1º milénio A.C. quando, muito próximo da sua embocadura, numa elevação da margem esquerda que hoje designamos por Monte Castêlo, surge um importante povoado da Idade do Ferro: o Castro de Guifões, habitado por Brácaros Galaicos. Na base do morro, junto ao rio, desenvolver-se-ia, seguramente, uma estrutura portuária, ainda que incipiente. Os achados arqueológicos recolhidos vêm atestando da chegada – por via marítima - de produtos originários de paragens longínquas.

OBRA EM PROGRESSO

Rio Leça
O Leça é um rio português que nasce em Monte Córdova no município de Santo Tirso. A bacia do rio Leça tem uma área de 189,9 Km2 e apenas 44,8 quilómetros de comprimento para o curso de água principal, passa por Alfena, Ermesinde, Milheirós, Maia, Guifões, indo desaguar no Porto de Leixões na cidade de Matosinhos (freguesias de Leça da Palmeira e Matosinhos).

Foto

Nascente do rio Leça
Autor(a) Nuno Fernandes

ESTUDO DA MORFOLOGIA DO RIO LEÇA
Descrição -Leça
Morfologia


Figura 1: Pormenor da embocadura do estuário do rio Leça (IGeoE, 2001)

A bacia hidrográfica do rio Leça, com cerca de 50 km de comprimento está orientada na direcção Este - Oeste e é limitada a Norte pela bacia do rio Ave e a Sul e Este pela bacia do rio Douro. O rio nasce no Monte de Stª. Luzia, a cerca de 420 metros de altitude e desagua em Leixões, a norte da cidade do Porto. Os seus principais tributários a Ribeira do Arquinho (bacia de 33 km2) e a Ribeira de Leandro (bacia de 20 km2). O estuário do Leça (Figura 1 ) é de pequenas dimensões e está muito artificializado, sendo ocupado na sua quase totalidade pelo porto de Leixões, o maior da região norte de Portugal.


O escoamento anual total na foz do rio Leça é, em média, de 107 hm3, a que corresponde um caudal médio de 3.4 m3/s. O afluente que mais contribui para o caudal na foz é a ribeira do Arquinho contribui para o escoamento médio com 13.3 hm3 (INAG, 2001)

A Figura 2 apresenta uma perspectiva tridimensional da bacia do rio Leça e a Figura 3 , mostra o perfil longitudinal do rio (DRA–Norte, 2000). As figuras mostram baixos declives nos primeiros 42 km de percurso (a partir da foz). Os últimos 6 km do percurso do rio efectuam-se em zonas de relevo acidentado - Serra da Agrela – variando as cotas, desde os 120 metros até aos 420 metros de altitude.

Figura 2: Perspectiva tridimensional da bacia do rio Leça (DRA–Norte, 2000).


Figura 3: Perfil longitudinal do rio Leça (DRA–Norte, 2000).

O escoamento no estuário do Leça é determinado pela maré e pelo caudal do rio, podendo a corrente do rio Leça fazer-se sentir até ao anteporto em situações de chuva intensa.
A maré é essencialmente do tipo semi-diurno, sendo as componentes mais importantes a M2, S2, e a N2. Na zona exterior ao porto, a corrente dominante é paralela à costa, predominantemente de Norte para Sul com velocidades inferiores a 1 nó (50 cm/s).
Devido à sua pequena dimensão e importância económica e ecológica, este estuário está muito pouco estudado, com excepção dos aspectos relevantes para as actividades do porto de Leixões.

Modelação Matemática
A hidrodinâmica do estuário foi simulada utilizando o modelo MOHID2000 para a região compreendida entre a batimétrica dos 25 metros, na plataforma continental e o limite de propagação da maré situado 3.5 km a montante do porto de Leixões. O passo espacial do modelo é variável tendo um mínimo de 20 m na zona do estuário e 250m na fronteira oceânica.
As simulações foram feitas para condições médias de maré e de caudal do rio. Na fronteira oceânica foi imposta a variação da superfície livre devida à componente M2 da maré e na fronteira fluvial onde foi imposto o caudal médio do rio Leça, 3.4 m3/s.

Resultados das simulações
Com o modelo foram simuladas a hidrodinâmica e a distribuição de salinidades. O movimento da água foi visualizado usando traçadores lagrangeanos emitidos em caixas, numa situação de preia-mar. Os resultados são apresentados na forma de séries temporais, nos pontos representados na Figura 4 e de distribuições espaciais no baixo estuário ( o relevante para definição do limite de jusante.

Figura 4 Posição das séries temporais

Hidrodinâmica
Na Figura 5 representam-se as elevações nos pontos 1 e 6 indicados na Figura 4 . No ponto 1 observa-se o carácter semi-diurno da maré com uma amplitude de cerca de 1,65 m e uma variação do tipo sinusoidal. O ponto 6 só é inundado pela maré durante o período de níveis mais altos. Durante esse período o nível varia também de forma sinusoidal. Quando o nível da maré baixa abaixo dos 2.5 metros o nível torna-se constante, sendo o seu valor imposto pelo caudal do rio.

Em ambos os casos as velocidades instantâneas são reduzidas (inferiores a 5 cm/s). Os valores baixos das velocidades são consequência do valor reduzido da área do estuário e do caudal do rio. A velocidade máxima regista-se à saída do porto onde a área da secção transversal é mínima. As figuras mostram que o escoamento se faz preferencialmente pelo canal mais profundo e põe em evidência o papel do molhe que protege o porto da acção das ondas provenientes de NW.

Figura 5: Séries temporais dos níveis nos pontos 1 e 6 indicados na Figura 4 .

O escoamento residual representa o deslocamento preferencial da água e resulta dos efeitos não lineares associados ao escoamento instantâneo e do caudal do rio. Assim e o escoamento residual está associado ao efeito da aceleração do escoamento na entrada do porto. Deste efeito resultam os vórtices existentes quer no interior do porto quer no exterior da entrada do porto. A inclinação do jacto de vazante induz um escoamento residual dirigido de norte para sul em frente à embocadura. O valor reduzido do caudal do rio e o vórtice existente no interior do porto são responsáveis pelo elevado tempo de residência da água no interior do estuário.

Salinidade
A salinidade foi simulada para condições de caudal média (3.4 m3/s). As figuras mostram que a bacia do porto de Leixões e o canal do rio tem condições de salinidade muito diferentes. Este resultado é também mostrado na Figura 7 onde são representadas séries temporais de salinidade nos pontos indicados na Figura 4 . O baixo gradiente de salinidade na bacia do porto é uma consequência do vórtice residual existente naquela região, que promove a recirculação da água proveniente do rio e a sua diluição na água do mar que entra durante a enchente.

Figura 7 Evoluções temporais da salinidade nos 6 pontos do domínio representados na Figura 4 .


O ponto 1 representado na Figura 7 , apesar de se encontrar na zona de maior influência oceânica mostra o efeito do elevado tempo de residência na salinidade. À medida que nos deslocamos para montante a salinidade diminui. A figura mostra também a grande diferença de salinidades entre os pontos localizados na bacia do porto e os localizados no canal de entrada do rio.

Traçadores Lagrangeanos
Os traçadores lagrangeanos são usados para visualizar o movimento da água. Depois de emitidos estes traçadores deslocam-se à velocidade da água, calculada pelo modelo hidrodinâmico, permitindo identificar o seu deslocamento e mistura. Os traçadores foram emitidos em preia-mar, agrupados em caixas. O seu movimento permite visualizar o escoamento e compreender a dinâmica do sistema.

As velocidades baixas já observadas nos resultados da hidrodinâmica fazem com que o deslocamento dos traçadores seja também pouco intenso. Continuando a simulação por mais tempo verificou-se que só ao fim de 3 dias de simulação é que os traçadores começam a sair da bacia do porto. A continuação da simulação mostra que os traçadores que atravessam a embocadura do porto deixam o estuário quando contornam o molhe que protege o canal de acesso ao porto.

LINK DO ESTUDO