terça-feira, janeiro 31, 2006

...elevação da freguesia de Guifões a Vila...

Ordenação heráldica do brasão e bandeira

Publicada no Diário da República, III Série de 14/06/1994
Armas - Escudo de verde, ponte medieval de um arco, de prata lavrada de negro e movente dos flancos, acompanhada em chefe de um maço de canteiro, do mesmo metal entre duas espigas de milho de ouro, postos em roquete. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco com a legenda a negro em maiúsculas : “ FREGUESIA DE GUIFÕES “.

Símbologia
As espigas de milho - Representam a tradição e riqueza agrícola desta terra e recordam o espírito de ajuda mutua sempre presente na lide dos campos. O maço de canteiro - Recorda os montantes de Guifões e toda a sua importância no talhar da pedra, uma vez que esta existe em abundância na freguesia. A ponte medieval - Simboliza o castro romano “Castrum Quiffiones” e todo trabalho de exploração arqueológica desenvolvido. O escudo de verde - Simboliza a vasta flora que cobre as terras desta freguesia assim como o rio Leça recordando todo a seu contributo como fertilizador dos campos adjacentes.
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A deputada na Assembleia da República, drª. Luísa Salgueiro, que é também vereadora da Câmara Municipal de Matosinhos, apresentou no hemiciclo de S. Bento uma proposta para a elevação da Freguesia de Guifões a Vila.

(para mais link no titulo)

quinta-feira, janeiro 12, 2006

OBRA EM PROGRESSO

Ponte da Pedra
6 de Março de 1849. Uma caleche pára à porta do restaurante situado na Ponte da Pedra. Aparentemente é mais uma que se junta à “fileira espectacular dos trens à porta da taberna”. Lá dentro, damas e cavalheiros das mais distintas camadas sociais do Porto, organizavam um banquete de homenagem à famosa cantora Dabedeille. Entre eles encontravam-se “os quatro famosos Guedes, da Casa da Costa, o terror dos caceteiros cabralistas; os Leites de Paço de Sousa; e bastantes morgados de Riba-Douro, de Riba-Corgo e Riba-Tâmega”. Os recém-chegados, Camilo Castelo Branco e Aloísio de Seabra, ferverosos adeptos de uma outra cantora – Clara Belloni -, entram no banquete brindando à sua dama. A provocação degenera num ápice em enorme rixa cujos resultados, fáceis de prever, foram descritos posteriormente pelo próprio Camilo: “Aloysio retirava ferido pela ponta de um estoque de bengala; eu, que entrara resoluto a morrer, inutilizado o copo na cabeça do mais cobarde, cruzei os braços esperando a morte numa atitude romana”.
Além deste episódio, que Camilo descreverá pelo menos duas vezes, a estalagem da Ponte da Pedra surge também referida na obra ficcional do escritor, como é o caso de “A Filha do Arcediago” (1854), “Doze Casamentos Felizes” (1861) e “Aventuras de Basílo Fernandes Enxertado” (1863), atestando a fama que o estabelecimento possuía na época. Local da moda, ponto de encontro de aristocratas e janotas, a estalagem, além de uma das últimas situadas antes da cidade, na estrada que a ligava a Braga, era conhecida pela boa cozinha do seu restaurante. As características bucólicas e proporcionadoras de lazer da envolvente, onde se destacavam as margens do Leça, emprestavam também ao sítio outros aliciantes. A sua praia fluvial, os passeios de barco no rio, os namoros sob a frondosa ramagem que se curvava sobre as águas... Por tudo isto não admira que a Ponte da Pedra fosse, na segunda metade do século XIX, um dos lugares mais chiques na região.
Com o advento da industrialização, a conquista do descanso semanal e, fundamentalmente, com a chegada do carro-eléctrico ao local, assiste-se à “democratização” da Ponte da Pedra durante a primeira metade do século XX. Aos sábados e domingos milhares de “tripeiros” rumam até aí em busca do lazer possível. Quanto à conhecida estalagem, fora adquirida por novos proprietários e sofrera significativas transformações, dando origem, em 1912, à “Casa Ferreira” que manterá a notoriedade e fama da sua antecessora, embora apenas como restaurante, uma vez que os tempos e as velocidades eram já outros e a sua função como estalagem para os viajantes entre Braga e Porto perdera sentido.
Mas, paulatinamente, o local vai perdendo os seus atractivos. O seu isolamento perde-se fruto do desenvolvimento urbano, as unidades industriais crescem à sua volta e as águas do Leça correm irremediavelmente poluídas... A decadência do espaço é acompanhada pelo declínio dos estabelecimentos que até aí viviam da procura que este suscitava. Privados dos seus clientes desaparecem os banheiros e barqueiros, e os cafés e restaurantes vêem a sua clientela reduzida aos locais e a residuais viajantes. E a Casa Ferreira não é excepção...
Quanto à Ponte da Pedra, a que deu o nome ao lugar, essa mantém-se. Outra coisa não seria de esperar de uma estrutura que caminha a passos largos para o seu segundo milénio de existência. E, se é verdade que ao longo da sua história esta ponte foi objecto de inúmeras intervenções, não é menos verdade que a sua origem remonta ao Domínio Romano na nossa região, nos primeiros séculos da nossa Era. Vários vestígios visíveis na sua base, incluindo “pedras almofadadas” romanas, atestam a sua antiguidade.
Mas esta não era seguramente uma ponte secundária para os romanos, uma vez que se localizava naquela que era a principal via de uma vasta região, ligando duas cidades de capital importância: Olissipo (Lisboa) e Bracara Augusta (Braga). A descoberta de um marco miliário dedicado ao imperador Trajano a algumas centenas de metros de distância, e o perpetuar da Rua da Estrada Velha em ambas as margens são outros testemunhos desta importante via romana associada à Ponte da Pedra.

Como chegar
Encontrando-se no Porto, na Estrada da Circunvalação, deverá o leitor apanhar o cruzamento do Amial em direcção ao centro de S. Mamede de Infesta. Passe o cruzamento principal desta localidade e continue seguindo em frente, descendo em direcção ao Leça. Aqui chegados verá sobre o rio a velha Ponte da Pedra, hoje só para peões, uma vez que a travessia se faz por uma outra ponte construída poucos metros a juzante. Na margem esquerda do rio, e do lado direito para quem chega vindo do Porto, encontrará também os cafés que subsistem, entre os quais a Casa Ferreira. Se possível, abstraia-se um pouco de como é hoje o local, viaje no tempo e imagine um espaço bucólico e de lazer, as visitas e contendas de Camilo, a boa cozinha que atraía os viajantes, ou mesmo as legiões romanas cruzando o tabuleiro da ponte multisecular...


Como ver
Chegados ao local e revisitada a memória do tempo das estalagens e dos banquetes chiques na contemplação da fachada da Casa Ferreira, deverá o visitante centrar a sua atenção na Ponte da Pedra. A melhor perspectiva sobre este monumento obtém-se de montante, junto das margens do Leça. Para tal, o ideal será solicitar permissão no Café da Ponte da Pedra para se deslocar até ao jardim que se encontra nas suas traseiras. Deste espaço, antigo amarradouro de embarcações que lembra uma vez mais outros tempos do Leça, é possível alcançar o arco da ponte na base do qual se detectam as características pedras almofadadas que comprovam a origem romana do monumento.


O que comer
Enguias de caldeirada. Foi o que Camilo terá comido (se é que teve tempo!) na noite da contenda na Ponte da Pedra: “O taberneiro serviu-nos um quarto e umas enguias de caldeirada, ao pé da sala do banquete”. Contudo, hoje a Casa Ferreira é pouco mais do que um café de bairro, não podendo o leitor esperar encontrar o mesmo repasto que aí teria feito deslocar o escritor e tantos outros viajantes.

Para saber mais
Alexandre CABRAL - Ponte da Pedra. “Dicionário de Camilo Castelo Branco”. Lisboa: Editorial Caminho, 1989, p.513-514.
Camilo CASTELO BRANCO - Um episódio em Leça. “O Nacional”, nº115, 7 de Março de 1849.
Camilo CASTELO BRANCO - Serões de S. Miguel de Ceide. “Memórias de além túmulo”. 1928, p. 61-71.
Texto: Joel Cleto e Suzana Faro