quinta-feira, outubro 05, 2006

OBRA EM PROGRESSO

"(…) Mapa de ademonstração da Costa do Mar desde a Villa de Matozinhos, ate a Barra da Cidade do Porto (…)" Por Jozé Gomes da Cruz, Piloto das Naus de Guerra. 1775 Cópia de 1906. Arquivo da APDL.

Proposed Harbour at Leça, 1865 (Proposta de James Abernethy para um porto na foz do Leça) Arquivo da APDL

Porto de Leixões. Planta Geral e Perfis-typos segundo os diversos projectos que foram elaborados por differentes Engenheiros nacionaes e estrangeiros. Esc.1/2.500 (no original). S/d. Arquivo da APDL

Construção do Porto de Leixões (1884-1892) Vista geral do porto e da Vila de Matosinhos-Leça. Foto: Emílio Biel

Construção do Porto de Leixões (1884-1892) Molhe do Norte visto dos rochedos de Leixões Foto: Emílio Biel


DAS ORIGENS.
OU O PORTO DO FILHO DE HÉRCULES


«… porque estando (…) metidos ao mar huns escabrosos penhascos, a que chama Leixoens o vulgo; por mais que as tempestades embravecidas ostentem nelles com encapellada inchação e horrorosos deliquios, nunca nelles se vio haver naufragio, antes sim seguro asylo a toda a embarcação, que de proposito encaminha o rumo a este surgidouro admiravel, para salvar-se de todo, o que de outra sorte seria infallivel estrago, e notorio perigo, conseguindo deste modo bonança na mais furiosa tormenta.»

António Cerqueira Pinto, História da Prodigiosa Image..., 1737
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Quis Deus ou a Natureza que na foz do rio Leça, a meio quarto de légua da costa, se elevasse das águas atlânticas um conjunto de rochedos a que os homens deram o nome de «Leixões». Eram o «Espinheiro», a «Alagadiça», o «Leixão» grande e pequeno, como grande e pequeno eram também os rochedos da «Lada». Mas havia também o «Tringalé», o «Galinheiro», o «Cavalo de Leixão», a «Quilha», a «Baixa do Moço», o «Fuzilhão», o «Baixo do Leixão Velho» e muitos outros…
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Desígnio divino, ou tão só caprichosos afloramentos graníticos, que os geólogos classificam de grão médio ou gnáissico, os Leixões descreviam um semí-circulo no mar, formando como que um porto de abrigo natural.
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Numa costa frequentemente assolada por tempestades e nevoeiros, perigosos dada a existência de abundantes penedias traiçoeiras só visíveis nas vazantes, e que muito contribuíram para o sombrio e nefasto título de «Costa Negra» dado a esta região durante séculos, o refúgio formado naturalmente pela enseada dos Leixões não poderia deixar de escapar à atenção e argúcia dos Homens. E, com efeito, desde a mais recuada Antiguidade é a intervenção humana, mais do que a natural ou a do Criador, que moldará a história de Leixões. Mesmo que, para tal, muitas vezes tenham os mortais enfrentado as adversidades impostas pela natureza, e outras tantas tenham vencido o que pareceu ser a oposição do divino ou, quem sabe, a vontade do Demo.
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Não bastavam já os Leixões, também o próprio rio Leça contribuía e reforçava o apelo ao abrigo. Deslizando suave, nesta etapa final da sua viagem, o rio desaguava num convidativo estuário, navegável para montante até uma distância considerável. Tais potencialidades eram já aproveitadas no 1º milénio A.C. quando, muito próximo da sua embocadura, numa elevação da margem esquerda que hoje designamos por Monte Castêlo, surge um importante povoado da Idade do Ferro: o Castro de Guifões, habitado por Brácaros Galaicos. Na base do morro, junto ao rio, desenvolver-se-ia, seguramente, uma estrutura portuária, ainda que incipiente. Os achados arqueológicos recolhidos vêm atestando da chegada – por via marítima - de produtos originários de paragens longínquas.

OBRA EM PROGRESSO

Rio Leça
O Leça é um rio português que nasce em Monte Córdova no município de Santo Tirso. A bacia do rio Leça tem uma área de 189,9 Km2 e apenas 44,8 quilómetros de comprimento para o curso de água principal, passa por Alfena, Ermesinde, Milheirós, Maia, Guifões, indo desaguar no Porto de Leixões na cidade de Matosinhos (freguesias de Leça da Palmeira e Matosinhos).

Foto

Nascente do rio Leça
Autor(a) Nuno Fernandes

ESTUDO DA MORFOLOGIA DO RIO LEÇA
Descrição -Leça
Morfologia


Figura 1: Pormenor da embocadura do estuário do rio Leça (IGeoE, 2001)

A bacia hidrográfica do rio Leça, com cerca de 50 km de comprimento está orientada na direcção Este - Oeste e é limitada a Norte pela bacia do rio Ave e a Sul e Este pela bacia do rio Douro. O rio nasce no Monte de Stª. Luzia, a cerca de 420 metros de altitude e desagua em Leixões, a norte da cidade do Porto. Os seus principais tributários a Ribeira do Arquinho (bacia de 33 km2) e a Ribeira de Leandro (bacia de 20 km2). O estuário do Leça (Figura 1 ) é de pequenas dimensões e está muito artificializado, sendo ocupado na sua quase totalidade pelo porto de Leixões, o maior da região norte de Portugal.


O escoamento anual total na foz do rio Leça é, em média, de 107 hm3, a que corresponde um caudal médio de 3.4 m3/s. O afluente que mais contribui para o caudal na foz é a ribeira do Arquinho contribui para o escoamento médio com 13.3 hm3 (INAG, 2001)

A Figura 2 apresenta uma perspectiva tridimensional da bacia do rio Leça e a Figura 3 , mostra o perfil longitudinal do rio (DRA–Norte, 2000). As figuras mostram baixos declives nos primeiros 42 km de percurso (a partir da foz). Os últimos 6 km do percurso do rio efectuam-se em zonas de relevo acidentado - Serra da Agrela – variando as cotas, desde os 120 metros até aos 420 metros de altitude.

Figura 2: Perspectiva tridimensional da bacia do rio Leça (DRA–Norte, 2000).


Figura 3: Perfil longitudinal do rio Leça (DRA–Norte, 2000).

O escoamento no estuário do Leça é determinado pela maré e pelo caudal do rio, podendo a corrente do rio Leça fazer-se sentir até ao anteporto em situações de chuva intensa.
A maré é essencialmente do tipo semi-diurno, sendo as componentes mais importantes a M2, S2, e a N2. Na zona exterior ao porto, a corrente dominante é paralela à costa, predominantemente de Norte para Sul com velocidades inferiores a 1 nó (50 cm/s).
Devido à sua pequena dimensão e importância económica e ecológica, este estuário está muito pouco estudado, com excepção dos aspectos relevantes para as actividades do porto de Leixões.

Modelação Matemática
A hidrodinâmica do estuário foi simulada utilizando o modelo MOHID2000 para a região compreendida entre a batimétrica dos 25 metros, na plataforma continental e o limite de propagação da maré situado 3.5 km a montante do porto de Leixões. O passo espacial do modelo é variável tendo um mínimo de 20 m na zona do estuário e 250m na fronteira oceânica.
As simulações foram feitas para condições médias de maré e de caudal do rio. Na fronteira oceânica foi imposta a variação da superfície livre devida à componente M2 da maré e na fronteira fluvial onde foi imposto o caudal médio do rio Leça, 3.4 m3/s.

Resultados das simulações
Com o modelo foram simuladas a hidrodinâmica e a distribuição de salinidades. O movimento da água foi visualizado usando traçadores lagrangeanos emitidos em caixas, numa situação de preia-mar. Os resultados são apresentados na forma de séries temporais, nos pontos representados na Figura 4 e de distribuições espaciais no baixo estuário ( o relevante para definição do limite de jusante.

Figura 4 Posição das séries temporais

Hidrodinâmica
Na Figura 5 representam-se as elevações nos pontos 1 e 6 indicados na Figura 4 . No ponto 1 observa-se o carácter semi-diurno da maré com uma amplitude de cerca de 1,65 m e uma variação do tipo sinusoidal. O ponto 6 só é inundado pela maré durante o período de níveis mais altos. Durante esse período o nível varia também de forma sinusoidal. Quando o nível da maré baixa abaixo dos 2.5 metros o nível torna-se constante, sendo o seu valor imposto pelo caudal do rio.

Em ambos os casos as velocidades instantâneas são reduzidas (inferiores a 5 cm/s). Os valores baixos das velocidades são consequência do valor reduzido da área do estuário e do caudal do rio. A velocidade máxima regista-se à saída do porto onde a área da secção transversal é mínima. As figuras mostram que o escoamento se faz preferencialmente pelo canal mais profundo e põe em evidência o papel do molhe que protege o porto da acção das ondas provenientes de NW.

Figura 5: Séries temporais dos níveis nos pontos 1 e 6 indicados na Figura 4 .

O escoamento residual representa o deslocamento preferencial da água e resulta dos efeitos não lineares associados ao escoamento instantâneo e do caudal do rio. Assim e o escoamento residual está associado ao efeito da aceleração do escoamento na entrada do porto. Deste efeito resultam os vórtices existentes quer no interior do porto quer no exterior da entrada do porto. A inclinação do jacto de vazante induz um escoamento residual dirigido de norte para sul em frente à embocadura. O valor reduzido do caudal do rio e o vórtice existente no interior do porto são responsáveis pelo elevado tempo de residência da água no interior do estuário.

Salinidade
A salinidade foi simulada para condições de caudal média (3.4 m3/s). As figuras mostram que a bacia do porto de Leixões e o canal do rio tem condições de salinidade muito diferentes. Este resultado é também mostrado na Figura 7 onde são representadas séries temporais de salinidade nos pontos indicados na Figura 4 . O baixo gradiente de salinidade na bacia do porto é uma consequência do vórtice residual existente naquela região, que promove a recirculação da água proveniente do rio e a sua diluição na água do mar que entra durante a enchente.

Figura 7 Evoluções temporais da salinidade nos 6 pontos do domínio representados na Figura 4 .


O ponto 1 representado na Figura 7 , apesar de se encontrar na zona de maior influência oceânica mostra o efeito do elevado tempo de residência na salinidade. À medida que nos deslocamos para montante a salinidade diminui. A figura mostra também a grande diferença de salinidades entre os pontos localizados na bacia do porto e os localizados no canal de entrada do rio.

Traçadores Lagrangeanos
Os traçadores lagrangeanos são usados para visualizar o movimento da água. Depois de emitidos estes traçadores deslocam-se à velocidade da água, calculada pelo modelo hidrodinâmico, permitindo identificar o seu deslocamento e mistura. Os traçadores foram emitidos em preia-mar, agrupados em caixas. O seu movimento permite visualizar o escoamento e compreender a dinâmica do sistema.

As velocidades baixas já observadas nos resultados da hidrodinâmica fazem com que o deslocamento dos traçadores seja também pouco intenso. Continuando a simulação por mais tempo verificou-se que só ao fim de 3 dias de simulação é que os traçadores começam a sair da bacia do porto. A continuação da simulação mostra que os traçadores que atravessam a embocadura do porto deixam o estuário quando contornam o molhe que protege o canal de acesso ao porto.

LINK DO ESTUDO

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Castrum Quiffiones


1) Introdução.
O Castro de Guifões, situado no Monte Castelo, é, pela quantidade e pela qualidade dos objectos encontrados, dos mais importantes, da região norte.



Os Castros aparecem no Neolítico Pleno, 5.000 a 2.000 anos antes de Cristo, juntamente com os Dolmens ou Antas. O Castro Quiffiones, provavelmente, teve o seu início por essa remota época.

Anta


Ruínas do Castrum Quiffiones.



2) A Localização.
A freguesia de Guifões pertence ao concelho de Matosinhos, distrito do Porto. Situa-se na margem do rio Leça. O rio é fronteira natural a norte e a oeste.



A sudoeste da freguesia num outeiro que desce até ao rio o Monte do Castelo encontra-se a estação arqueológica de Guifões, onde se situa o chamado Castro de Guifões.

3) Enquadramento Histórico.
A área de estudo é definida por duas faixas costeiras que drenam directamente para o oceano, evidencia o relevo pouco expressivo, bem como a forma aberta do vale. O clima da região é de verões e Invernos do tipo moderado. De paisagem atraente, o rio sempre foi descrito como bucólico e calmo.

A Península Hispânica, da qual faz parte o nosso país, foi em todos os tempos uma terra cobiçada, pelos povos estranhos, devido ás suas condições especiais de situação, riqueza mineira, fertilidade do solo e amenidade do clima.

O Castro Quiffiones, antes de conquistado pelos Romanos, era habitado pelos Callaecos Bracarii (um dos ramos dos Lusitanos) que viviam em autonomia política, formando uma Civitate. O castro propriamente dito era o Oppidum, isto é, a praça fortificada que servia de centro de governo, de defesa e de habitação em momentos de ataque de outros povos. Extra muralhas e á volta do Oppidum, a Civitate distribuíam ao longo das vias de comunicação e centralizava-se, em grande parte, a nascente das muralhas onde é hoje a aldeia de Guifões. A antiguidade deste castro é muito difícil de determinar, mas, tomando em consideração a competentíssima opinião do grande arqueólogo Leite de Vasconcelos de que todos os castros eram originariamente Pré-Célticos, não devemos errar muito em situá-lo também nessa remota época.

Os Oppidum mais próximos do de Quiffiones, eram Portus-Calle, hoje cidade do Porto, Castrum Alvarelius, na Serra de Santa Eufêmea, e Castelli Madie, em Águas Santas.De privilegiada situação geográfica, talvez única a seguir a Portus-Calle, com praça forte rodeada de fundos vales circundantes e ladeiras íngremes, Leixoens, na foz do rio Leça, e daí, por este rio, até à raiz do Castrum, junto à ponte de Quiffiones, dada a suavíssima corrente do Leça e sua fácil navegabilidade nesse tempo.

4) Engenharia e Arquitectura.
As muralhas que cercavam todo o vasto planalto eram, em grande parte, naturais, formadas pelos rochedos escarpados e ladeiras íngremes e dispostas perfeitamente à volta do monte, mais ou menos a meio das duas encostas; as artificiais eram em talude e fortes muros de duas paredes sobrepostas, o que servia, ao mesmo tempo, de defesa e contraforte de sustentação das terras do planalto. A entrada para a praça fortificada era pelo lado nascente, na via que comunicava com a (aldeia de Guifões). Todas as outras vias de comunicação das habitações das encostas do monte convergiam na dita porta de entrada.

Um Oppidum designava também Municipia, Coloniae, Praefecturae e, como já foi dito, era defendido, quer pela posição, quer por obras de arte, como fossos, muros, baluartes, etc.

Dos poucos vestígios que ainda restam das habitações dos antigos povos que viveram no Castrum Quiffiones (Monte Castelo) durante as duas civilizações de que sofreu influência, a pré-romana e a Romana, ainda se podem reconhecer alguns elementos.

1º - As de tipo circular, com o diâmetro aproximado de quatro metros, características da idade do ferro no Noroeste da Península, isto é, 650 a 500 anos antes de Cristo, talvez do mesmo tipo das da Citânia de Briteiros que, na opinião dos grandes arqueólogos, eram cobertas com colmo ou madeira com argila, em forma de cone, levando ao centro e no interior de casa um pegão com uma coluna de pedra ou de madeira para apoio do vértice do cone do telhado.






5) Achados Arqueológicos.
Na zona encontra-se monumentos megalíticos, encontrou-se não só restos de cozinha como machados de pedra, barcos de madeira cobertos de pele e a abundância de cerâmica de pasta clara o que reforça a ideia da ocupação destes locais por populações desde o paleolítico.



É muito variada a cerâmica do Castrum Quiffiones, quer na forma, quer na qualidade da pasta empregada.



A cerâmica primitiva, feita de pastas grosseiras, de tom cinzento escuro, sendo uma bem e outra mal cozida, o que demonstra ter existido no Castrum uma indústria cerâmica.Aparece também enorme quantidade da olaria Calaico-Romana, ânforas e vasilhas de grandes dimensões, louça de cozinha, etc. Essa grande quantidade de provas que chegou até aos nossos dias prova que o comércio de vinhos e azeites já existia e cujo fim principal era a exportação.



A cerâmica de pastas finas e de trabalho delicado está também muito bem representada aqui no Castrum Quiffiones, pela louça Arretina ou terra sigillata que mais tarde foi imitada no sul de França e Alemanha. Esta cerâmica é caracterizada pelo seu perfeito acabamento e pelo revestimento de verniz e dum vermelho coralino, que a reveste, como se pode ver na página seguinte.

6) Aparecimento, Evolução e Desaparecimento do povoado.
O estudo do castro de Guifões prova e segundo a opinião dos Mestres de Arqueologia, esta nossa região, há cerca de 30.000 anos, já era povoada por homens primitivos que viviam nas cavidades das rochas, Período Paleolítico.

Muitas centenas de anos antes da era cristã, aqui entraram os Fenícios, os Etruscos, os Lígures, os Gregos, os Celtas e os Africanos de Cartago ou Cartagineses. Depois vieram os Romanos, povo muito adiantado, que iniciaram a conquista da Península, mais de dois séculos antes de Cristo.Foi profunda a influência romana sobre o viver das populações, estas aproveitando os conhecimentos dos seus dominadores, acabaram por se adaptarem à sua civilização e romanizaram-se.

O domínio dos romanos durou até ao ano de 409, sendo nessa altura substituído pelo dos Suevos, povo de origem germânica. Mais tarde, em 585 da era de Cristo, um outro povo, também de origem germânica, os Visigodos, destruíram o reino dos Suevos e ficaram senhores de quase toda a Península até ao ano de 711 em que os árabes ou mouros, vindo do Norte de África, os atacaram e venceram, ficou assim sob o domínio dos mouros quase toda a Península.

O Castrum Quiffiones foi testemunha de toda esta sucessão de dominadores. Somente a partir do século XI se inicia para nós uma época nova, a que verdadeiramente poderemos chamar portuguesa.Portugal nasce como nação autónoma, embora não tivesse ainda a sua independência, conseguida depois por D. Afonso Henriques.

7) Conclusão.
A pacificação da Hispânia levou aos Romanos dois séculos, 218 antes de Cristo até 19 da Era Cristã. Só na luta com os Lusitanos gastaram século e meio, de 193 antes de Cristo até 25 depois de Cristo. Para conquistarem a Gália perderam apenas 7 anos.

Por conseguinte, a Municipia desta região teve início, como se depreende, aqui em Guifões, donde mais tarde passaria a Bouças, encontrando-se actualmente na orgulhosa e moderna urbe de Matosinhos, filha por excelência dos velhos e fortes Lusitanos do Castrum Quiffiones.

A cividade do Castrum Quiffiones foi testemunhada por toda a sucessão de povos dominadores. Alguns documentos anteriores à formação de Portugal em que o Castrum Quiffiones era memoriado como ponto de referência.

8) Bibliografia. Matosinhos Arqueologia “autor desconhecido”. Arquivos Históricos – Culturais de Matosinhos (ano II – nº2 – Dezembro 1996). Matosinhos Monografia do Concelho.

INDICE

1) Introdução.
2) Localização.
3) Enquadramento Histórico.
4) Engenharia e Arquitectura.
5) Achados Arqueológicos.
6) Evolução e Desaparecimento do Povoado.
7) Conclusão do Trabalho.
8) Bibliografia.

terça-feira, janeiro 31, 2006

...elevação da freguesia de Guifões a Vila...

Ordenação heráldica do brasão e bandeira

Publicada no Diário da República, III Série de 14/06/1994
Armas - Escudo de verde, ponte medieval de um arco, de prata lavrada de negro e movente dos flancos, acompanhada em chefe de um maço de canteiro, do mesmo metal entre duas espigas de milho de ouro, postos em roquete. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco com a legenda a negro em maiúsculas : “ FREGUESIA DE GUIFÕES “.

Símbologia
As espigas de milho - Representam a tradição e riqueza agrícola desta terra e recordam o espírito de ajuda mutua sempre presente na lide dos campos. O maço de canteiro - Recorda os montantes de Guifões e toda a sua importância no talhar da pedra, uma vez que esta existe em abundância na freguesia. A ponte medieval - Simboliza o castro romano “Castrum Quiffiones” e todo trabalho de exploração arqueológica desenvolvido. O escudo de verde - Simboliza a vasta flora que cobre as terras desta freguesia assim como o rio Leça recordando todo a seu contributo como fertilizador dos campos adjacentes.
LINK

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A deputada na Assembleia da República, drª. Luísa Salgueiro, que é também vereadora da Câmara Municipal de Matosinhos, apresentou no hemiciclo de S. Bento uma proposta para a elevação da Freguesia de Guifões a Vila.

(para mais link no titulo)

quinta-feira, janeiro 12, 2006

OBRA EM PROGRESSO

Ponte da Pedra
6 de Março de 1849. Uma caleche pára à porta do restaurante situado na Ponte da Pedra. Aparentemente é mais uma que se junta à “fileira espectacular dos trens à porta da taberna”. Lá dentro, damas e cavalheiros das mais distintas camadas sociais do Porto, organizavam um banquete de homenagem à famosa cantora Dabedeille. Entre eles encontravam-se “os quatro famosos Guedes, da Casa da Costa, o terror dos caceteiros cabralistas; os Leites de Paço de Sousa; e bastantes morgados de Riba-Douro, de Riba-Corgo e Riba-Tâmega”. Os recém-chegados, Camilo Castelo Branco e Aloísio de Seabra, ferverosos adeptos de uma outra cantora – Clara Belloni -, entram no banquete brindando à sua dama. A provocação degenera num ápice em enorme rixa cujos resultados, fáceis de prever, foram descritos posteriormente pelo próprio Camilo: “Aloysio retirava ferido pela ponta de um estoque de bengala; eu, que entrara resoluto a morrer, inutilizado o copo na cabeça do mais cobarde, cruzei os braços esperando a morte numa atitude romana”.
Além deste episódio, que Camilo descreverá pelo menos duas vezes, a estalagem da Ponte da Pedra surge também referida na obra ficcional do escritor, como é o caso de “A Filha do Arcediago” (1854), “Doze Casamentos Felizes” (1861) e “Aventuras de Basílo Fernandes Enxertado” (1863), atestando a fama que o estabelecimento possuía na época. Local da moda, ponto de encontro de aristocratas e janotas, a estalagem, além de uma das últimas situadas antes da cidade, na estrada que a ligava a Braga, era conhecida pela boa cozinha do seu restaurante. As características bucólicas e proporcionadoras de lazer da envolvente, onde se destacavam as margens do Leça, emprestavam também ao sítio outros aliciantes. A sua praia fluvial, os passeios de barco no rio, os namoros sob a frondosa ramagem que se curvava sobre as águas... Por tudo isto não admira que a Ponte da Pedra fosse, na segunda metade do século XIX, um dos lugares mais chiques na região.
Com o advento da industrialização, a conquista do descanso semanal e, fundamentalmente, com a chegada do carro-eléctrico ao local, assiste-se à “democratização” da Ponte da Pedra durante a primeira metade do século XX. Aos sábados e domingos milhares de “tripeiros” rumam até aí em busca do lazer possível. Quanto à conhecida estalagem, fora adquirida por novos proprietários e sofrera significativas transformações, dando origem, em 1912, à “Casa Ferreira” que manterá a notoriedade e fama da sua antecessora, embora apenas como restaurante, uma vez que os tempos e as velocidades eram já outros e a sua função como estalagem para os viajantes entre Braga e Porto perdera sentido.
Mas, paulatinamente, o local vai perdendo os seus atractivos. O seu isolamento perde-se fruto do desenvolvimento urbano, as unidades industriais crescem à sua volta e as águas do Leça correm irremediavelmente poluídas... A decadência do espaço é acompanhada pelo declínio dos estabelecimentos que até aí viviam da procura que este suscitava. Privados dos seus clientes desaparecem os banheiros e barqueiros, e os cafés e restaurantes vêem a sua clientela reduzida aos locais e a residuais viajantes. E a Casa Ferreira não é excepção...
Quanto à Ponte da Pedra, a que deu o nome ao lugar, essa mantém-se. Outra coisa não seria de esperar de uma estrutura que caminha a passos largos para o seu segundo milénio de existência. E, se é verdade que ao longo da sua história esta ponte foi objecto de inúmeras intervenções, não é menos verdade que a sua origem remonta ao Domínio Romano na nossa região, nos primeiros séculos da nossa Era. Vários vestígios visíveis na sua base, incluindo “pedras almofadadas” romanas, atestam a sua antiguidade.
Mas esta não era seguramente uma ponte secundária para os romanos, uma vez que se localizava naquela que era a principal via de uma vasta região, ligando duas cidades de capital importância: Olissipo (Lisboa) e Bracara Augusta (Braga). A descoberta de um marco miliário dedicado ao imperador Trajano a algumas centenas de metros de distância, e o perpetuar da Rua da Estrada Velha em ambas as margens são outros testemunhos desta importante via romana associada à Ponte da Pedra.

Como chegar
Encontrando-se no Porto, na Estrada da Circunvalação, deverá o leitor apanhar o cruzamento do Amial em direcção ao centro de S. Mamede de Infesta. Passe o cruzamento principal desta localidade e continue seguindo em frente, descendo em direcção ao Leça. Aqui chegados verá sobre o rio a velha Ponte da Pedra, hoje só para peões, uma vez que a travessia se faz por uma outra ponte construída poucos metros a juzante. Na margem esquerda do rio, e do lado direito para quem chega vindo do Porto, encontrará também os cafés que subsistem, entre os quais a Casa Ferreira. Se possível, abstraia-se um pouco de como é hoje o local, viaje no tempo e imagine um espaço bucólico e de lazer, as visitas e contendas de Camilo, a boa cozinha que atraía os viajantes, ou mesmo as legiões romanas cruzando o tabuleiro da ponte multisecular...


Como ver
Chegados ao local e revisitada a memória do tempo das estalagens e dos banquetes chiques na contemplação da fachada da Casa Ferreira, deverá o visitante centrar a sua atenção na Ponte da Pedra. A melhor perspectiva sobre este monumento obtém-se de montante, junto das margens do Leça. Para tal, o ideal será solicitar permissão no Café da Ponte da Pedra para se deslocar até ao jardim que se encontra nas suas traseiras. Deste espaço, antigo amarradouro de embarcações que lembra uma vez mais outros tempos do Leça, é possível alcançar o arco da ponte na base do qual se detectam as características pedras almofadadas que comprovam a origem romana do monumento.


O que comer
Enguias de caldeirada. Foi o que Camilo terá comido (se é que teve tempo!) na noite da contenda na Ponte da Pedra: “O taberneiro serviu-nos um quarto e umas enguias de caldeirada, ao pé da sala do banquete”. Contudo, hoje a Casa Ferreira é pouco mais do que um café de bairro, não podendo o leitor esperar encontrar o mesmo repasto que aí teria feito deslocar o escritor e tantos outros viajantes.

Para saber mais
Alexandre CABRAL - Ponte da Pedra. “Dicionário de Camilo Castelo Branco”. Lisboa: Editorial Caminho, 1989, p.513-514.
Camilo CASTELO BRANCO - Um episódio em Leça. “O Nacional”, nº115, 7 de Março de 1849.
Camilo CASTELO BRANCO - Serões de S. Miguel de Ceide. “Memórias de além túmulo”. 1928, p. 61-71.
Texto: Joel Cleto e Suzana Faro